Wednesday 16 April 2008

Tibet: um pouco de história - fascículo 1


Essa introdução histórica é super importante para entender o contexto atual, porque existe muita controvérsia sobre vários pontos históricos que os 2 lados usam para legitimar os seus argumentos.

Até escrever esse post, muitas coisas eu não entendia e agora que me puxei para escrevê-lo para compartilhar com vocês [e depois de ler um livro sobre a história da China - com poucas menções sobre o Tibet de fato] é que as coisas ficaram mais claras para mim.

A História é escrita pelos vencedores. O meu post é a versão dos tibetanos. Tirei do site do Students for a Free Tibet.

Dividi esta introdução em 2 partes para poder ficar mais palatável ao gosto tupiniquim [incluo o meu também]. A primeira até 1911 e a segunda de 1911 até a invasão da China.

O Estado tibetano foi criado mais ou menos em 127 a.C. sendo uma das potências da Ásia pelos 3 séculos seguintes. Por volta do ano 821/823 um tratado formal entre chineses e tibetanos demarcou a fronteira entre os 2 países e se asseguraram nesse tratado que “tibetanos seriam felizes no Tibet e chineses seriam felizes na China”.

Influência mongol

Quando Genghis Khan expandiu o império mongol até os limites da Europa, foi feito um acordo para que os mongóis não invadissem o Tibet e em troca o Sakya Lama daria bênçãos e ensinamentos aos mongóis. Tanto que quando os mongóis estabeleceram a dinastia Yuan na China invadida, o imperador convidou o prelado para ser o supremo pontíficie do reinado e preceptor do imperador.

O império mongol era mundial e independente de como fosse as relações dele com o Tibet, o império mongol nunca integrou ou aglutinou a administração do Tibet ou da China de maneira alguma.

Tibet rompeu laços com a administração mongol em 1350, antes da China ganhar independência dos mongóis.

Relações com os Manchu, Gorkha e os vizinhos britânicos

O Tibet não estabeleceu laços com a dinastia Ming [1386-1644], mas o Dalai Lama, que estabeleceu sua soberania com a ajuda do patrono mongol em 1642, estabeleceu laços religiosos fortes com a dinastia Qing [1644-1911].

O Dalai Lama concordou em ser o guia espiritual do imperador manchu e aceitou patronagem e proteção em troca.

Essa relação de “prelado-fidalgo” [Choen Yoen em tibetano], que o Dalai Lama também mantinha com alguns príncipes mongóis e nobres tibetanos, era o único laço formal existente entre os tibetanos e os manchus durante a dinastia Qing.

E por si só não afetava a independência do Tibet.

Em nível político, alguns imperadores manchus conseguiram exercer um grau de influência sobre o Tibet. Entre 1720 e 1792, os imperadores mandaram tropas imperiais 4 vezes para proteger o Dalai Lama de invasões externas ou de revoltas internas. Esses envios de tropas deram aos imperadores os meios para estabelecerem influência no Tibet.

No auge do império manchu, a relação entre os dois países era algo como uma superpotência e um protetorado ou satélite, [como com vários países hoje em dia], mas de qualquer forma, nunca extinguindo o status independente do Estado mais fraco.

O Tibet nunca foi incorporado ao Império Manchu e muito menos à China e continuava a manter relações com seus vizinhos separadamente.

A influência manchu não durou muito. Estava totalmente inefetiva quando os britânicos invadiram Lhasa brevemente e concluíram um tratado bilateral com o Tibet, a Convenção de Lhasa de 1904.

Mesmo com a perda de influência, o governo imperial manchu continuava a clamar alguma autoridade sobre o Tibet, particularmente em relação às suas relações internacionais, autoridade que o governo britânico na época chamava de “suzerainty” [suserania em português, e diferente de “sovereignty”, soberania] em seus negócios com Pequim e St Petersburgo na Rússia.

O exército imperial tentou reaver a influência atual em 1910 ocupando Lhasa. Seguido da revolução de 1911 que tirou os manchus do poder, as tropas se renderam ao exército tibetano e foram repatriadas sob um acordo sino-tibetano.

O Dalai Lama reafirmou a independência integral internamente, emitindo uma proclamação, e externalmente, em comunicações com dirigentes internacionais e um acordo com a Mongólia.

to be continued...

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