Tuesday 29 April 2008

polls

As eleições locais [prefeito, assembléia local e assembléia da cidade] serão quinta-feira próxima.

Como sou cidadão italiano, tenho direito a votar nas eleições locais - a do Parlamento britânico eu não posso, Parlamento europeu e também votar para Câmara dos Deputados e Senado italianos.

Não é fácil ser politizado.

Como me registrei para votar pelo correio, acabei de preencher as minhas cédulas para postá-las amanhã, já que elas têm que chegar até às 10pm do dia 1. de maio na prefeitura local da constituency de onde estou registrado.

Esse ano faz 10 anos que votei pela primeira vez. Foi na Dinamarca e somente para presidente. Lembro-me que votei no FHC e o voto ainda era de cédula.

Todas as eleições seguintes, incluindo um referendum, virei eleitor estrelinha, já que era mesário. Chegava sempre na hora de abrir a votação, de ressaca tremenda sem dormir, já que dia pré-eleição é lei seca e todo mundo fazia questão de infringir a lei. Ou pelo menos a minha turma.

No fim me divertia trabalhando nas eleições pq ficava bem no fervo e reencontrava várias pessoas que só via nas eleições mesmo. Trabalhava onde toda a fina-flor criciumense votava. Muito engraçado ver todo esse grande elenco desfilando como se estivessem à beira do Mediterranée em Mônaco.

Registrei-me para essas eleições sem saber nada sobre eleições daqui. Como não é compulsório, queria saber pelo menos como funcionava. Fui entender - até agora não tudo, ainda falta muito - no que estava votando domingo, qdo ganhei uma cartilha da minha irmã com todos os candidatos a prefeito e seus programas, e também explicando sobre o que são as assembléias.

Aqui - assim como deveria ser no Brasil - o partido é mais forte que o candidato, então conhecendo os partidos, não é necessário se preocupar com nomes nenhum.

Por sinal existem até uns partidos bem bizarros [para não chamar de nazistas] como o British National Party.

Votei tudo no Labour Party exatamente por eles terem uma política immigrant friendly comparado a alguns outros partidos.

Aprendi na facul de Direito [believe it or not] que as eleições são a melhor forma de poder mudar ou manter o que está acontecendo na sociedade, já que não tenho muito saco para guilhotinas. A política é uma coisa suja mas a democracia é ainda a melhor forma de governo até hoje inventada pelo homem.

Mais infos [também tem em português!] aqui.

Thursday 24 April 2008

Tibet: O Pachen Lama - fascículo 3


O Panchen Lama, pela tradição tibetana, é o número dois na hirerarquia, sendo o primeiro o Dalai Lama. Ele é a encarnação do Buda Amitabha, e carrega parte da responsabilidade de encontrar a encarnação do Dalai Lama, e vice-versa.

Em 1995, o Dalai Lama reconheceu Gedhun Choekyi Nyima, na época com 5 anos de idade, como sendo o 11. Panchen Lama. O governo chinês não concordou com a decisão e sumiu com ele e sua família alguns dias depois. Autoridades chinesas dizem que tomaram o rapaz em custódia protetora. E a China ainda impôs o seu próprio Panchen Lama.

Gendhun Choekyi Nyima, o 11. Panchen Lama, é o preso político mais jovem do mundo. Ninguém o viu desde que foi preso. Dia 25 de abril é o aniversário de 19 anos dele.

Como a China impôs o seu próprio Panchen Lama e que para qualquer lama reencarnar na China é necessária autorização do governo, todos sabem que quando o atual Dalai Lama morrer eles implementarão o seu próprio Dalai Lama.

O atual Dalai Lama deixou claro o ano passado para que os tibetanos morando em exílio pelo mundo se preparassem, porque o próximo Dalai Lama não virá de dentro do Tibet.

Saturday 19 April 2008

Review: Björk @ Hammersmith Apollo - 17 de abril



Depois de 15 anos, aconteceu. Fui a um show da Björk.

Começou com uma tal de Leila tocando um set bizarro com sons chatos por 45min. Tempo de fazer a cabeça bebendo Tuborg e Carlsberg [sim, estão servindo Tuborg aqui] e ir ao banheiro.

Fiquei em frente à caixa esquerda [as usual], e só não estava grudado no palco porque tinha um punhado de pessoas na minha frente.

Fui sozinho mas não me importei. Sempre gostei dela sozinho. Então estava com ela e isso bastava.

Ela entra depois depois de todos os outros músicos do palco [um conjunto de sopro de moças islandesas, um engenheiro de som / DJ, Mark Bell, e um "tocador" de moog/cravo.]


O palco vermelho e ela usando uma tiara de orelhas feita de cabelo, com a testa pintada com cores fluos e um vestido arco-íris, com uma legging de borracha por baixo. E descalça.



Ela é minúscula, parecia uma criança no palco: com o vestido todo colorido, dançando saltitante [com ritmo, pensei que ela fosse mais desengonçada]. E aquele vozeirão que tomava conta do lugar. Acho que vozeirão é coisa das pequenas, a tirar por ela, Madonna e Kylie Minogue etc.

Os músicos todos fantásticos, principalmente o engenheiro de som / DJ [que é canadense e fico devendo o nome]. A indumentária tecnológica super cool. Mark Bell tocando com um sintetizador touch-screen e o reactable bombando [sobre o mesmo, link].

Pontos altos: as músicas "das antiga" [mas não teve nenhuma do Debut]. A última do bis foi "Declare Independence", que só faltou ela dar um mosh pit do palco.

Foi lindo. Ela é tudo e ponto final.

Link para mais infos.

Thursday 17 April 2008

Tibet: um pouco de história - fascículo 2



[...]

Tibet no Século XX


O status do Tibet seguido da expulsão das tropas manchus não é assunto para sérias discussões. Quaisquer laços que existiam entre o Dalai Lama e os imperadores manchus da dinastia Qing foram extinguidos com a queda daquele império e dinastia.

Entre 1911 e 1950, o Tibet conseguiu conseguiu evitar influência exterior indevida com sucesso e se comportou, em todos os aspectos, como um Estado inteiramente independente.

O Tibet manteve relações diplomáticas com Nepal, Butão, Reino Unido e mais tarde com a Índia independente. Relações com a China se mantiveram restritas.

Os chineses estabeleceram uma guerra de fronteira enquanto formalmente clamando para o Tibet se juntar à república chinesa, e proclamando para todo o mundo que o Tibet já era uma das “5 raças” da China.

Em um esforço para reduzir as tensões sino-tibetanas, os britânicos convocaram uma conferência em Simla entre os 3 países em 1913 onde os representantes dos 3 estados se encontram em termos iguais.

Como lembrado pela delegação britânica, o Tibet entrou na conferência como “nação independente sem reconhecimento de aliança com a China”.

A conferência não obteve sucesso e não resolveu a diferença entre China e Tibet. Mas foi significante para reafirmação das relações anglo-tibetanas com a conclusão de comércio bilateral e acordo sobre fronteiras.

Numa declaração conjunta, Reino Unido e Tibet decidiram não reconhecer a suserania chinesa ou algum outro direito especial sobre o Tibet se a China na ratificasse a convenção de Simla que garantia ao Tibet maiores fronteiras, integridade territorial e autonomia plena.

A China nunca ratificou esse convenção, deixando os termos da declaração conjunta em total vigor.

O Tibet conduzia suas relações internacionais primeiramente com missões diplomáticas do Reino Unido, China, Nepal e Butão em Lhassa e também através de delegações do governo em viagens internacionais.

Quando a Índia se tornou independente, a missão diplomática britânica foi substituída por uma indiana. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Tibet se manteve neutro, mesmo com pressões dos EUA, Reino Unido e China para liberação de passagem de matéria-prima pelo seu território.

O Tibet nunca manteve relações internacionais extensivas, mas os países com quem matinha relações, sempre o tratavam como tratavam qualquer outro Estado soberano.

O seus status internacional de fato não era diferente como era, diríamos, o do Nepal.

Tanto que quando o Nepal se inscreveu para as Nações Unidas, citou seu tratado e relações diplomáticas com o Tibet para demonstrar sua identidade internacional plena.

A invasão do Tibet

A virada da história do Tibet veio em 1949 quando o Exército de Liberação Popular da República Popular da China cruzou as fronteiras do Tibet pela primeira vez.

Depois de derrotarem o pequeno exército tibetano e ocuparem metade do país, a governo chinês impôs o tão conhecido “Acordo de 17 Pontos para a Liberação Pacífica do Tibet” sobre o governo tibetano em maio de 1951.

Por ter sido assinado sob coação, o acordo não tem validade sob o ponto de vista do direito internacional.

A presença de 40.000 tropas no Tibet, a ameaça de ocupação imediata de Lhasa e a perspectiva de destruição total do Estado tibetano deixaram os tibetanos com poucas opções.

Enquanto a resistência à ocupação chinesa aumentava, principalmente no Tibet oriental, a repressão chinesa, que incluía a destruição de prédios religiosos e a prisão de monges e outros líderes comunitários, aumentava dramaticamente.

Em 1959, um levante popular culminou em protestos massivos em Lhasa. Pela época que a China conseguiu acabar com o levante, 87.000 tibetanos tinham sido mortos só na região de Lhasa, e o Dalai Lama transferiu-se para Índia, de onde ele lidera hoje o Governo-em-exílio, em Dharamsala.

Em 1963, o Dalai Lama promulgou a constituição para um Tibet democrático. Foi implementada com sucesso até onde foi conseguiu se extender, pelo Governo-em-exílio.

Enquanto isso, a perseguição, violações constantes dos direitos humanos e a destruição em massa de prédios históricos e religiosos pelas autoridades ocupantes não conseguiram destruir o espírito do povo tibetano a resistir a destruição de sua identidade nacional.

1,2 milhão de tibetanos perderam suas vidas [mais de um-sexto da população] como resultado da invasão chinesa.

Mas a nova geração de tibetanos aparenta tão determinada a retomar a independência do país quanto a geração mais antiga.

Wednesday 16 April 2008

Tibet: um pouco de história - fascículo 1


Essa introdução histórica é super importante para entender o contexto atual, porque existe muita controvérsia sobre vários pontos históricos que os 2 lados usam para legitimar os seus argumentos.

Até escrever esse post, muitas coisas eu não entendia e agora que me puxei para escrevê-lo para compartilhar com vocês [e depois de ler um livro sobre a história da China - com poucas menções sobre o Tibet de fato] é que as coisas ficaram mais claras para mim.

A História é escrita pelos vencedores. O meu post é a versão dos tibetanos. Tirei do site do Students for a Free Tibet.

Dividi esta introdução em 2 partes para poder ficar mais palatável ao gosto tupiniquim [incluo o meu também]. A primeira até 1911 e a segunda de 1911 até a invasão da China.

O Estado tibetano foi criado mais ou menos em 127 a.C. sendo uma das potências da Ásia pelos 3 séculos seguintes. Por volta do ano 821/823 um tratado formal entre chineses e tibetanos demarcou a fronteira entre os 2 países e se asseguraram nesse tratado que “tibetanos seriam felizes no Tibet e chineses seriam felizes na China”.

Influência mongol

Quando Genghis Khan expandiu o império mongol até os limites da Europa, foi feito um acordo para que os mongóis não invadissem o Tibet e em troca o Sakya Lama daria bênçãos e ensinamentos aos mongóis. Tanto que quando os mongóis estabeleceram a dinastia Yuan na China invadida, o imperador convidou o prelado para ser o supremo pontíficie do reinado e preceptor do imperador.

O império mongol era mundial e independente de como fosse as relações dele com o Tibet, o império mongol nunca integrou ou aglutinou a administração do Tibet ou da China de maneira alguma.

Tibet rompeu laços com a administração mongol em 1350, antes da China ganhar independência dos mongóis.

Relações com os Manchu, Gorkha e os vizinhos britânicos

O Tibet não estabeleceu laços com a dinastia Ming [1386-1644], mas o Dalai Lama, que estabeleceu sua soberania com a ajuda do patrono mongol em 1642, estabeleceu laços religiosos fortes com a dinastia Qing [1644-1911].

O Dalai Lama concordou em ser o guia espiritual do imperador manchu e aceitou patronagem e proteção em troca.

Essa relação de “prelado-fidalgo” [Choen Yoen em tibetano], que o Dalai Lama também mantinha com alguns príncipes mongóis e nobres tibetanos, era o único laço formal existente entre os tibetanos e os manchus durante a dinastia Qing.

E por si só não afetava a independência do Tibet.

Em nível político, alguns imperadores manchus conseguiram exercer um grau de influência sobre o Tibet. Entre 1720 e 1792, os imperadores mandaram tropas imperiais 4 vezes para proteger o Dalai Lama de invasões externas ou de revoltas internas. Esses envios de tropas deram aos imperadores os meios para estabelecerem influência no Tibet.

No auge do império manchu, a relação entre os dois países era algo como uma superpotência e um protetorado ou satélite, [como com vários países hoje em dia], mas de qualquer forma, nunca extinguindo o status independente do Estado mais fraco.

O Tibet nunca foi incorporado ao Império Manchu e muito menos à China e continuava a manter relações com seus vizinhos separadamente.

A influência manchu não durou muito. Estava totalmente inefetiva quando os britânicos invadiram Lhasa brevemente e concluíram um tratado bilateral com o Tibet, a Convenção de Lhasa de 1904.

Mesmo com a perda de influência, o governo imperial manchu continuava a clamar alguma autoridade sobre o Tibet, particularmente em relação às suas relações internacionais, autoridade que o governo britânico na época chamava de “suzerainty” [suserania em português, e diferente de “sovereignty”, soberania] em seus negócios com Pequim e St Petersburgo na Rússia.

O exército imperial tentou reaver a influência atual em 1910 ocupando Lhasa. Seguido da revolução de 1911 que tirou os manchus do poder, as tropas se renderam ao exército tibetano e foram repatriadas sob um acordo sino-tibetano.

O Dalai Lama reafirmou a independência integral internamente, emitindo uma proclamação, e externalmente, em comunicações com dirigentes internacionais e um acordo com a Mongólia.

to be continued...

Monday 14 April 2008

Tibet


Desde que comecei esse blog estou devendo esse post engajado falando sobre o Tibet, e devido às circunstâncias, agora mais do que nunca é a hora.

Faz tempo que sou simpatizante à causa, já enchi muito saco de meus amigos falando sobre isso, já montei barraquinha em festival de rock apoiando a causa e acredito que, pelo menos os amigos mais próximos, hoje vendo tudo isso, são tocados pela situação também.

Sempre me cobrava porque achava que fazia muito pouco a respeito, mas o ambiente era limitante para engajamentos com questões internacionais de direitos humanos.

Odeio posts longos em blogs alheios, porque nunca os leio. Então, para ficar facílimo de ler, vou dividir em fascículos.

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